terça-feira, 8 de julho de 2014

O apóstolo dos pés sangrentos

  1. image
    Sundar Sing era filho de pessoa rica e proeminente da Índia, onde imperava e ainda impera uma discriminação e racismo brutais, estando o país dividido em castas que praticamente não se comunicam entre si. Conheceu Jesus através da leitura de um Novo Testamento. Essa guinada em sua vida custou-lhe o ódio e a discriminação por parte de todos – inclusive da família, levando-o a viver nos campos e matas, em extrema penúria e também, muitas vezes, em grandes cidades do mundo fazendo conferências.
    Sua alegria interior compensava tudo que tinha perdido. Ele próprio dizia que queria viver, tanto quanto possível, uma vida semelhante à de Jesus.
    O milagre era uma constante em sua vida. Imagine alguém que não tem onde dormir, nem o que comer ou vestir, andando por selvas, montes, desertos, montanhas geladas e que pudesse sobreviver se não fosse pelo milagre. Imagine, também, as perseguições, prisões, espancamentos de alguém que, qual Daniel, não contasse com um Deus para livrá-lo.
    Pois bem, assim era a vida do Sadhu (termo indiano que significa santo ou separado) Sundar Sing: entre visões da glória, transportes, meditações profundas, estados de êxtase.
    Certa feita, foi atirado pelos seus algozes dentro de um poço cheio de pessoas condenadas – mortas ou moribundas. Um poço de onde ninguém sairia. A despedida da vida. Quando chegou ao fundo, sentiu o contato morno de algo que nada mais era do que carne humana fétida, em decomposição. Logo em seguida fecharam a chave a boca do poço.
    “Não sabia que três dias se tinham passado. Inerte, sentado entre os ossos e os cadáveres, aguardava a morte, quando a boca do poço se abriu. Um vulto irreconhecível surgiu, negro contra o céu da noite. A voz, ampliada, era como o trovão. Ordenava-lhe que 
    agarrasse a corda. E pouco depois, tateando fracamente, encontrou-a. Tinha um nó na extremidade. Firmou ali o pé e segurou-a como pôde. Sentiu que era erguido. Seu corpo oscilou pesadamente de uma parede à outra, até que atingiu a superfície. Fortes mãos o agarraram e o colocaram em terra. O ar fresco invadiu-lhe os pulmões como a água da represa invade o vale, os diques. Tossindo, atordoado, ouviu como em sonhos o ranger da tampa, o som da chave na fechadura. Olhou em torno para conhecer o seu amigo desconhecido, mas viu que estava só na escuridão noturna. Caiu de joelhos e deu graças a Deus. Quem o visse dormindo entre o bulício da faina diária que começava não imaginaria que era o mesmo que estivera no fundo do poço por três dias”.
    No final de sua vida tentou várias vezes a travessia do Himalaia, rumo ao Tibete, onde pretendia pregar o evangelho. Da última vez, na primavera, não se conteve. Pretendia atingir o seu destino pela 'Estrada do Peregrino'.
    Quando soube que seu pai se convertera voltou imediatamente à Índia para passar alguns dias com ele. Mas seu coração batia pelo Tibet. Por duas vezes se dirigiu para lá, mas misteriosamente não conseguiu chegar ao seu destino e teve que ser trazido muito enfermo, quase morto. Mesmo aconselhado por amigos e por seu médico quando recuperado se pos a caminho. Sobre o gelo, o sangue; pés feridos em caminhos de brancura, regando o alvor da neve. À noite, o frio, o vento, a solidão, o gelo. Vermelhos de sangue, violentados pelos climas glaciais, sobre as montanhas, os pés de Sudar Singh deixaram um rastro vermelho, um doloroso rastro de sacrifício pelo evangelho, testemunho vivo que conduz a Jesus Cristo. E nunca mais foi visto o seu corpo não foi encontrado em parte alguma. Não houve noticia de que tenha cruzado com algum viajante ou que passasse em algum lugarejo. É provável que no Himalaia esteja hoje sua sepultura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

CÂNTICOS DE ROMAGEM - SALMO 132