sábado, 1 de dezembro de 2018

Carta a um Jovem Cristão que faz sexo com sua namorada.

Meu caro Ricardo,

Ontem estive pregando em sua igreja e tive a oportunidade de rever João, nosso amigo comum. Não lhe encontrei. João me disse que você e a Raquel, sua namorada, tinham saído com a turma da mocidade para um acampamento no fim de semana e que só regressariam nessa segunda bem cedo.

Saí com o João para comer pizza após o culto e falamos sobre você. João abriu o coração. Ele está muito preocupado com você, desde que você disse a ele que tem ido com Raquel para motéis da cidade e às vezes até mesmo depois do culto de jovens no sábado à noite. Ele falou que já teve várias conversas com você mas que você tem argumentado defendendo o sexo antes do casamento como se fosse normal e que pretende casar com Raquel quando terminarem a faculdade.

Ele pediu minha ajuda, para que eu falasse com você, e me autorizou a mencionar nossa conversa na pizzaria. Relutei, pois acho que é o pastor de sua igreja que deve tratar desse assunto. Você e a Raquel, afinal, são membros comungantes dessa igreja e estão debaixo da orientação espiritual dela. Mas, João me disse que o pastor faz de conta que não sabe que essas coisas estão acontecendo na mocidade da igreja. Como sou amigo da sua família fazem muitos anos, desde que vocês frequentaram minha igreja em São Paulo, resolvi, então, escrever para você sobre esse assunto, tendo como base os argumentos que você usou diante de João para justificar sua ida a motéis com a Raquel.

Se entendi direito, você argumenta que não há nada na Bíblia que proíba sexo antes do casamento. É verdade que não há uma passagem bíblica que diga “não farás sexo antes do casamento;” mas existem dezenas de outras que expressam essa verdade com outras palavras e de outras maneiras. Podemos começar com aquelas que pressupõem o casamento como sendo o procedimento padrão, legal e estabelecido por Deus para pessoas que desejam viver juntas (veja Mateus 9:15; 24:38; Lucas 12:36; 14:8; João 2:1-2; 1Coríntios 7:9,28,39), aquelas que abençoam o casamento (Hebreus 13:4) e aquelas que se referem ao divórcio – que é o término oficial do casamento – como algo que Deus aborrece (veja Malaquias 3:16; Mateus 5:31-32).

Podemos incluir ainda aquelas passagens contra os que proíbem o casamento (1Timóteo 4:3) e as outras que condenam o adultério, a fornicação e a prostituição (veja Mateus 5:28,32; 15:19; João 8:3; 1Coríntios 7:2; 6:9; Gálatas 5:19; Efésios 5:3-5; Colossenses 3:5; 1Tessalonicenses 4:3-5; 1Timóteo 1:10; Hebreus 13:4; Apocalipse 21:8; 22:15). Qual é o referencial que nos possibilita caracterizar esses comportamentos como desvios, impureza e pecado? O casamento, naturalmente. Adultério, prostituição e fornicação, embora tendo nuances diferentes, têm em comum o fato de que são relações sexuais praticadas fora do casamento. Se o casamento, que implica num compromisso formal e legal entre um homem e uma mulher, não fosse a situação normal onde o sexo pode ser desfrutado de maneira legítima, como se poderia caracterizar como desvio o adultério, a fornicação ou a prostituição? A Bíblia considera essas coisas como pecado e coloca os que praticam a impureza sexual e a imoralidade debaixo da condenação de Deus – a menos que se arrependam, é claro, e mudem de vida.

Você argumenta também que o casamento é uma conveniência humana e que muda de cultura para cultura. Bom, é certo que o casamento tem um caráter social, cultural e pessoal. Todavia, do ponto de vista bíblico, não se pode esquecer que foi Deus quem criou o homem e a mulher, que os juntou no jardim, e disse que seriam uma só carne, dando-lhes a responsabilidade de constituir família e dominar o mundo. O casamento é uma instituição divina a ser realizada pelas sociedades humanas. Embora as culturas sejam distintas, e os rituais e procedimentos dos casamentos sejam distintos, do ponto de vista bíblico o casamento implica em reconhecimento legal daquela união por quem de direito, trazendo implicações para a criação e tutela dos filhos, sustento da casa e também responsabilidades e consequências em caso de separação e repúdio. Quando duas pessoas resolvem ir morar juntas como se fossem casadas, essa decisão não faz delas pessoas casadas diante de Deus – mas (desculpe a franqueza), pessoas que estão vivendo em imoralidade sexual.

É verdade que a legislação de muitos países tem cada vez mais reconhecido as chamadas uniões estáveis. É uma triste constatação que o casamento está cada vez mais sendo desvalorizado na sociedade moderna ocidental. Todavia, esses movimentos no mundo e na cultura não são a bússola pela qual a Igreja determina seu norte – e sim a Palavra de Deus. Em muitas culturas a legislação tem sancionado coisas que estão em contradição com os valores bíblicos, como aborto, eutanásia, uniões homossexuais, uso de drogas, etc. A Igreja deve ter uma postura crítica da cultura, tendo como referencial a Palavra de Deus.

O João me disse ainda que você considera que o mais importante é o amor e a fidelidade, e que argumentou que tem muita gente casada mas infeliz e infiel para com o cônjuge. Ricardo, é um jogo perigoso tentar justificar um erro com outro. Gente casada que é infiel não serve de desculpas para quem quer viver com outra pessoa sem se casar com ela. Além do mais, como pode existir o conceito de fidelidade numa união que não tem caráter oficial nem legal, e que não teve juramentos solenes feitos diante de Deus e das autoridades constituídas? Mesmo que você e sua namorada façam uma “cerimônia” particular onde só vocês dois estão presentes e onde se casem a si mesmos diante de Deus – qual a validade disso? As promessas de fidelidade trocadas por pessoas não casadas têm tanto valor quanto um contrato de gaveta. Lembre inclusive que não é a Igreja que casa, e sim o Estado. Naqueles casamentos religiosos com efeito civil, o pastor ou padre está agindo com procuração do juiz.

Não posso deixar de mencionar aqui que na Bíblia o casamento é constantemente referido como uma aliança (veja Ezequiel 16:59-63). Deus é testemunha dessa aliança feita no casamento, a qual também é chamada de “aliança de nossos pais”, uma referência ao caráter público da mesma (não deixe de ler Malaquias 2:10-16).

Não fiquei nem um pouco surpreso com seu outro argumento para fazer sexo com sua namorada, que foi “é importante conhecer bem a pessoa antes do casamento”. Já ouvi esse argumento dezenas de vezes. E sempre o considerei uma burrice – mais uma vez, desculpe a franqueza. Em que sentido ter relações sexuais com sua namorada vai lhe dar um conhecimento dela que servirá para determinar se o casamento vai dar certo ou não? Embora o sexo seja uma parte muito importante do casamento, o que faz um casamento funcionar são os relacionamentos pessoais, a tolerância, a compreensão, a renúncia, o amor, a entrega, o compartilhar… você pode descobrir antes do casamento que sua namorada é muito boa de cama, mas não é o desempenho sexual de vocês que vai manter ou salvar seu casamento. Esse argumento parte de um equívoco fundamental com relação à natureza do casamento e no fim nada mais é que uma desculpa tola para comerem a sobremesa antes do almoço.

Agora, o pior argumento que ouvi do João foi que você disse “a graça de Deus tolera esse comportamento.” Acho esse o pior argumento porque ele revela uma coisa séria em seu pensamento, que é tomar a graça de Deus como desculpa para um comportamento imoral. Esse sempre foi o argumento dos libertinos ao longo da história da igreja. O escritor bíblico Judas, irmão de Tiago, enfrentou os libertinos de sua época chamando-os de “homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo” (Judas 4). Esse é o caminho de Balaão “o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição” (Apocalipse 2:14). É a doutrina da prostituta-profetisa Jezabel, que seduzia os cristão “a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos” (Apocalipse 2:20) e a conhecer “as coisas profundas de Satanás” (Apocalipse 2:24).

Como seu amigo e pastor, permita-me exortá-lo a cair fora dessa maneira libertina de pensar, Ricardo, antes que sua consciência seja cauterizada pelo engano do pecado (Hebreus 3:13). Ainda há tempo para arrependimento e mudança de atitude. A abstinência sexual é o caminho de Deus para os solteiros, e esse estilo de vida é perfeitamente possível pelo poder do Espírito, ainda que aos olhos de outros seja a coisa mais careta e retrógrada que exista. Se você realmente pensa em casar com a Raquel e constituírem família, o melhor caminho é pararem agora de ter relações e aguardarem o dia do casamento. Vocês devem confessar a Deus o seu pecado e um ao outro, e seguir o caminho da abstinência, com a graça de Deus.

Estou à sua disposição para conversarmos pessoalmente. Traga a Raquel também. Estou orando por vocês.

Um grande abraço,

Pr. Augustus

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